quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Letras carnívoras

Minha carne lateja
como uma berne viva inserida
sob meu tecido vem o desejo
de esclarecer os sentimentos...

Quanto mais me bate o vento
sinto minha pele arder
Quanto mais me bate o vento
as letras me cativam
Quanto mais me bate o vento
 desejo escrever
Quanto mais me bate o vento
as letras me devoram[...]

Sou devorado toda vez...

Sinto as letras o meu corpo devorarem
Elas em conjunto me tiram a calma
O meu corpo corresponde...
Cedendo às letras minha alma

Meus pés decidem uns aos outros acariciar
sempre nesse gesto generoso
de uma infinita dependência
Se amam... uns aos outros
Se necessitam para andar...

Com minhas mãos o trovão seguro
saio rasgando a terra
nela deposito todo o conteúdo
que meu espirito pode conter

Os rasgos são tão indelicados
que toda vez que os leio
sofro...
sou devorado...
que mais me enche o espírito do que me tranquiliza.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Barriga cheia

Estão com fome ?
a culpa não é minha !
nada te neguei infâmia
Meu pão não dividirei com traças que nem vocês
para que comer pobres diabos ?

Sim estamos com fome privatizador dos sabores e sustentos[...]
Perdoe-nos,a inconveniência de culpar-lhe digníssimo homem
nunca nos negaste nada queridíssimo.
 Nada queremos,olharemos pois o desperdício, e saborearemos  o gosto da fome.
Comer? não há necessidade, digníssimo homem.

A fome descasca o corpo dos impotentes
Apenas a alma vaga buscando salvação
Os pés descalços e á amostra os dentes
E pela pele pulsa coração
Enquanto a comida arde na boca do impiedoso
sedentos pela sede de acúmulo e poder
que para sustentar seu tecido adiposo
Retiram do outro o direito de comer

Malditos sejam larvas infernais !
que jugam-se possessores da graça
fedem!,imundos animais
por tamanha crueldade
de implantar aos pobres
A eterna desgraça!

Não não percebem
A comida tirada da criança
seus cabelos não tem força
sua pele esburacada moscas saem de suas bocas

Esquecidos? olhem para trás !
vejam que sofrimento plantou
de retirar as essências carnais
retroceda!,perceba quantos matou!

os olhos quietos
revelam o resto de criança entorpecida
e a busca por uma realidade muito distante
desta maldita estabelecida.

Será que posso ainda dormir sem pensar
nos que passam fome ?
Será que eles podem dormir sabendo que amanhã nada terão de comer?

Oh morte furarei a fila ...
atenda-me o quanto antes
pois muita é minha fome por justiça.